sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Vai uma dança?

Depois do último tango Sócrates e Coelho esforçaram-se por conseguir uma distância higiénica, não fosse voltar o fantasma da falta de alternativas e colagem conseguido em tempos idos… muitas entrevistas, as propostas de revisão constitucional pelo meio, e o aumentar de tensões com o próximo OE no olho.


Em 2009 o OE foi o cartaz eleitoral do governo, em 2010 foi uma ilusão, em 2011 após Pecs, Pics e Pocs, e só porque fingir simplesmente já não funciona, é o despertar [tardio] do governo para a realidade que há muito negava. Nada de anormal, pois para este governo o que agora é certo amanhã é impensável [e vice versa]. Foi assim no défice, nos impostos, na própria realidade… enfim. Com os mercados nervosos e a nossa credibilidade em causa só agora o nosso ministro das finanças consegue ler muito bem os tais mercados. Tal aptidão dava jeito noutras alturas em que se assobiava alegremente para o lado.


Agora na boca do governo estão as “medidas corajosas”, o sentido de responsabilidade, e como sempre não há alternativa às opções do governo. Na mesa de negociações a delicadeza de um hipopótamo, característica deste governo que da maioria absoluta à simples maioria nunca foi fã da democracia. Ao contrário do que vaticinava em tempos Manuel Alegre, Sócrates não tem talento nenhum para governar em minoria… Está tudo muito bem, desde que se faça assim…


Admita-se que é preciso muita coragem para aumentar o preço do leite achocolatado e por aí em diante, ao mesmo tempo que se planeia prosseguir com o TGV, aeroporto e auto-estradas. É preciso coragem para tentar vender a ideia que afogar o consumo e desfraldar o rendimento, não levará a uma economia recessiva. Muita coragem deve-se ter para querer dar lições sobre despesa, enquanto saem estes dados da execução orçamental. Coragem é essencial ao apresentar-se um OE cheio de sacrifícios, e a salganhada de um BPN que vamos acabar por pagar bem para vender. Ora não fosse necessário salvaguardarmo-nos do risco de contágio que na altura apareceu de um momento para o outro [na cabeça do governo e boca do ministro das finanças, claro está].


Mas outros dias se avizinham, o Governo vai negociar o OE com o PSD e apesar dos “cantos gregorianos” da retórica partidária Coelho e Sócrates vão dançar mais um tango, a rumba e a macarena se for preciso. Tomar as rédeas portuguesas agora não dá muito jeito… e não nos esqueçamos que este OE é um imperativo patriótico. Afinal, o governo esforçou-se tanto para reduzir [e não extinguir] a margem de manobra… tanto quanto se esforçou o PSD para navegar o compasso de espera. Só um completo autismo político do PSócratismo impedirá o OE. Já provaram sofrer deste mal, mas dadas as circunstâncias tal cenário afigura-se improvável.




[Imagem retirada de ..mau-maria papoila..]

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