sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Casamento civil registado

O Governo avançou [e bem] com a proposta de lei que permitirá o casamento entre pessoas do mesmo sexo, e ao mesmo tempo restringe [e bem \ note-se que eu concordo com a adopção] a adopção a esses casais.



O PCP concorda com a orientação seguida pelo governo com a separação das matérias, a ILGA aprova, e eis que surgem as já esperadas vozes dissonantes.

Primeiro a mais característica delas todas, o que tem um problema com o nome. O PSD vai apresentar um projecto de lei que propõe a união civil registada, ao invés do casamento. O partido não gosta de discriminação na questão do casamento, assim opta por meia discriminação, e dá outro nome… ao casamento. Depois temos o outro “partido”, Alberto João Jardim:


Sim… com tantos problemas para quê preocuparmo-nos com uma coisa menor como a discriminação… enfim…

Já o BE e a associação Panteras Rosa, acham que o casamento e a adopção estão no mesmo saco e acusam o governo de criar uma nova discriminação. Esta posição é a que eu tenho mais dificuldade em compreender. Na verdade o que acontece é um upgrade da discriminação, pois em relação à adopção a discriminação já existia. O que tenho menos dificuldade em perceber é o objectivo em pôr a questão dessa maneira. Mas isso já é outra história.



O CDS-PP, a igreja, o PND, ou seja, os defensores da “família” e dos “bons costumes” [ou pelo menos defensores da sua versão destes], já se insurgiram contra a medida, e fazem-se agora apoiar por uma iniciativa popular de recolha de assinaturas que conta agora com 72 mil assinaturas. O referendo em si não me parece necessário, no entanto nunca fui adverso à participação popular na tomada de decisões.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Esclarecimento precisa-se

O Conselho Superior do Ministério Público aplica ao procurador Lopes da Mota uma suspensão de 30 dias, algo que poderá querer dizer que houve pressão sobre os investigadores do caso Freeport… entretanto o suposto “bode expiatório” do Freeport acaba por renunciar […acrescente-se, muito custosamente…] ao cargo de Membro Nacional da Eurojust … mas voltemos às pressões.
Agora o essencial é saber o porquê da suspensão, pois se esta foi por causa das tais pressões podemos dizer que foi muito… bem... digamos envergonhada. Já para não falar que isto não deveria ser uma simples palmadinha no pulso e toca a andar porque não se passa nada.  Enfim, diria que é necessário no minimo um "esclarecimento"… diria…

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Palhaços na A.R.


A primeira audição da Comissão Parlamentar de Saúde, uma oportunidade para começar a discutir as matérias relativas à saúde, “trabalhando” as questões. Já em Portugal os deputados optam, como sempre, pela via das artes circenses, e em alguns casos com stand-up comedy à mistura.

Depois de uma intervenção de um deputado que incluía a menção a “comportamentos esquizofrénicos”, Maria José Nogueira Pinto, e Ricardo Gonçalves decidiram elevar o teor do debate:



Maria José Nogueira Pinto - “Eu há pouco estava a perguntar de onde é que saiu este palhaço, que é o senhor. E sabe porquê? Porque eu nunca tinha visto um palhaço permanente numa comissão parlamentar. Mas acho que devem-no ter eleito exactamente para isso, para nos animar. (…) O Sr. deputado tem estado a insultar toda a gente num regime de total impunidade.”

Ricardo Gonçalves - “A Sr.ª Dr.ª não domina esta área, veio de outra área. Veio de outro partido, está sempre a mudar de partido, nunca está em lado nenhum. Vende-se por qualquer preço para ser eleita por qualquer partido, e portanto faz estes papéis com muita facilidade. (…) Quem foi insultado fui eu. (…) como acha que pertence a uma classe superior (…) A Sr.ª que é da linha de Cascais, acha que pode dizer estas coisas. Isso é inadmissível.”



O nível foi tal, que Couto dos Santos [presidente da comissão] chegou a ameaçar suspender os trabalhos da comissão, isto quase a gritar tentando se sobrepor às vozes dos deputados.


Mais dois palhaços e uma palhaçada no Parlamento…

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Tratado de Lisboa


1 de Dezembro de 1640, o dia da restauração da independência de Portugal.


1 de Dezembro de 2009, o dia em que Tratado de Lisboa entra em vigor. 369 anos depois da restauração da independência, alguma da nossa soberania é cedida a uma U.E. pouco e cada vez menos democrática [tirando os adornos de cabeceira, como a espécie de iniciativa popular. 1 milhão de europeus de um número significativo de Estados que pode solicitar à Comissão a apresentação de novas propostas políticas], num nevoeiro de democracia participativa e representativa, e com um Tratado cujo nome é o da nossa capital.


O Tratado de Lisboa que altera o Tratado da União Europeia e o Tratado que institui a Comunidade Europeia é a bem dizer o Tratado Constitucional que foi “chumbado”. Despojado de todo o simbolismo que teria enquanto Constituição Europeia, ficámos com mais um tratado de revisão que opera uma reforma institucional no seio da U.E., indevidamente imposta a todos os europeus. Chumbado que foi o Tratado Constitucional na França e na Holanda por via de referendo, não sei porque carga de água achou-se que o que os europeus queriam a mesma música numa capa diferente. Eis que surge o Tratado de Lisboa, praticamente o mesmo conteúdo, sob uma nova forma. Como se já não bastasse todo este manobrismo politico-burocrata, mudaram-se posições, alteraram-se circunstâncias, e de repente a ratificação por via parlamentar interpôs-se à vontade popular, isto à parte da Irlanda em que a estratégia foi a de referendar até aceitarem. Até porque este país não é uma França onde a repetição de um referendo seria inadmissível [uh la la…]. Muito democrático? Pois claro.


Os novos desafios do nosso tempo foram as justificações por excelência para a urgência da tão almejada reforma institucional, um imperativo de um destino já traçado ao qual não podemos fugir… ou temos isto ou temos o declínio da U.E…. Enfim… da globalização, ao apoio humanitário, das alterações demográficas, às climáticas, das fontes de energia sustentáveis, até às novas ameaças como o terrorismo, tudo foi mote para o injectar nas veias dos 27 povos de um europeísmo forçado, e muito pouco democrático. Um salto maior do que a perna que significa uma mudança assente cada vez mais numa lógica federalista para a qual a U.E. ainda não está preparada.


A acção da U.E. saiu reforçada em muitas áreas. Entre as quais destacam-se, a segurança, a justiça, o ambiente, a energia, os serviços públicos, a ajuda humanitária, a investigação, ou a saúde pública. Agora existem 7 instituições na União, o Parlamento Europeu, o Conselho Europeu, o Conselho, a Comissão Europeia, o Tribunal de Justiça da União Europeia, o Banco Central Europeu e o Tribunal de Contas.


O Conselho Europeu passa agora a ser considerado uma instituição mantendo o seu papel de impulsionador e de orientador da direcção política e prioridades da U.E. Dentro do Conselho surge uma nova figura, a do Presidente do Conselho Europeu, algo que põe fim ao sistema de Presidências rotativas. O Parlamento Europeu será a instituição responsável pela eleição do Presidente do Conselho Europeu com base numa pré selecção dos chefes de Estado e de governo, que deverá ter em conta os resultados das eleições, para um mandato de dois anos e meio [renovável uma vez]. Herman Van Rompuy é o actual presidente. Conhece? Certamente que sim.


Uma outra inovação é a criação do cargo de Alto Representante para os Negócios Estrangeiros e a Política de Segurança [O Ministro dos Negócios Estrangeiros do Tratado Constitucional], que será responsável pela política externa da União. Este cargo é criado com um dos objectivos deste Tratado em mente, o reforçar da coerência da acção externa da U.E. Actualmente Catherine Ashton ocupa este lugar. Agora conhece de certeza… já nem pergunto…

O Parlamento Europeu altera a sua composição [não pode exceder os 750 deputados + o presidente, em que os países mais populosos têm mais deputados, sendo que cada Estado-Membro não pode ter menos de 6 nem mais de 96] e reforça os seus poderes. Existem agora mais matérias em que o Parlamento está em pé de igualdade com o Conselho através do recurso mais frequente ao processo de co-decisão. A título de exemplo, o Tratado de Lisboa sujeita agora orçamento da U.E. à aprovação do Parlamento Europeu, e permite a fixação das despesas em conjunto com o Conselho.


O voto por maioria qualificada é alargado a mais domínios, a U.E, ganha personalidade jurídica, os países pequenos perdem influência, cresce um preocupante apelo ao militarismo, e a soberania começa a concentrar-se em redor da capital… Bruxelas.

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Corrupção na mesa, AR na mesma


Passa na generalidade o projecto de lei do BE para acabar com a distinção entre corrupção por acto lícito e ilícito. O diploma do BE para a cativação das mais-valias urbanísticas ficou pelo caminho.


Já quanto ao enriquecimento ilícito e ao levantamento do sigilo bancário o BE solicitou um adiamento das votações, um para dia 10 [enriquecimento ilícito do BE e PCP] e outro para 11, porque… o BE quer dar “mais uma oportunidade ao PS” e para que se forme “uma maioria contra a corrupção”[sim... isso].


Lá pelo estratégico dia 10 também será o dia da proposta do PSD de uma comissão eventual para tratar a corrupção, medida que o PS já disse apoiar. Uma comissão que servirá para a recolha de contributos e a análise de medidas destinadas ao combate à corrupção. Aparentemente de acordo com o PSD essa comissão recolheu um amplo consenso. E estamos todos de parabéns. Portugal dará mais um meio passo, na luta contra a corrupção. A juntar ao meio passo do Conselho de Prevenção da Corrupção [o “grupo de estudo” praticamente desprovido de independência, que foi criado na última legislatura] , já lá vai um passo inteiro de enchimento de chouriços. Continue-se no bom caminho.


Bem melhor foi o debate quinzenal de hoje, subjugado ao tema políticas económicas:

- Sócrates anuncia 475 euros para o salário mínimo, anuncia o alargamento do prazo para as empresas com dívidas ao fisco, e chora sobre a aprovação do adiamento da entrada em vigor do código contributivo.

- PSD bate no pretenso eleitoralismo do PSócratismo, e nas acusações de espiolhagem política.

- Sócrates fala no salário mínimo, e na indignação contra a coscuvilhice e aproveitamento político.

- CDS-PP molha a colher no terramoto do desemprego.

- Sócrates fala no salário mínimo…

- BE rebate nas acusações de espiolhagem.

- Sócrates fala no salário mínimo…

- PCP fala no salário mínimo, nos lucros da banca e da energia.

- Sócrates responde dizendo que louvava o PCP por ter falado no salário mínimo.

- O PEV fala nas barragens.

- Sócrates decidiu então falar no salário mínimo.


Coisa para cá coisa para lá, até que o clima de “mau comportamento” crivado de bocas e boquinhas, e muito característico dos senhores deputados [e de muitas criancinhas mimadas], acaba por levar a melhor do primeiro-ministro. Perante as interrupções que vinham da bancada do CDS-PP por causa do BPN, Sócrates disse a Portas o seguinte:


Mediante este cenário Portas exaltou-se…


Folgo em poder registar neste primeiro debate quinzenal, que apesar das mudanças fica tudo na mesma. O comportamento dos deputados não melhorou, o primeiro-ministro continua arrogante e sem responder às perguntas, os partidos continuam a perseguir a sua agenda política ao invés de … sei lá… discutir os assuntos, e não limitar a politica a jogos de bastidores.