Qual deverá ser o peso do factor partido, na orientação de voto? Quando é que o partido passa de um mobilizador de vontades politicas, para um condicionador da vontade de voto? Assistimos recentemente ao “drama político” que foi criado à volta da participação de Manuel Alegre no encontro da esquerda, com Vitalino Canas a afirmar que, "a participação de militantes do PS em eventos do Bloco de Esquerda não nos parece aconselhável, embora o PS seja um partido livre e que convive bem com a divergência." Se recuarmos um pouco mais no tempo, lembrar-se-ão da entrevista de Manuela Ferreira Leite, durante o período de disputa eleitoral no PSD, em que não ficou esclarecido se teria ou não votado em Santana nas legislativas. O próprio Santana considerou que essa foi, “uma declaração que ultrapassa os limites do razoável e portanto, inaceitável". Nuno Delerue mostrou-se "estupefacto com a afirmação da dra. Manuela Ferreira Leite de não assumir, com clareza e naturalidade, que votou PSD no combate duríssimo que o partido travou contra o eng. Sócrates em 2005". Chegou a ir mais longe, com o seu entendimento sobre os deveres dos militantes: "Porque, sobretudo para militantes com especiais responsabilidades, o amor ao PSD não pode ser circunstancial, dependendo de quem exerce o poder em cada momento".
Esta questão não se circunscreve aos militantes de relevo de cada partido, pois é também no eleitor comum que se encontra a ideia de fidelidade partidária, no sentido de voto. È certo que hoje em dia, o voto orienta-se cada vez menos por este tipo de obrigatoriedade, no entanto este é um factor que poder-se-á ter em conta, especialmente quando falamos de militantes. Enquanto jovenzinho, habituei-me a ouvir, “voto no PSD porque sou do PSD”, ou simplesmente um tão natural, “porque sim” (PSD porque sou madeirense). A identidade partidária pode ser e é em alguns casos, o factor primordial na orientação do sentido de voto, que dependendo do seu grau de intensidade no indivíduo, poderá afectar também aqueles que o rodeiam. Não é de todo pouco comum, encontrar “famílias do PSD”, do PS e por ai fora. De certa maneira, a tendência política é também transmitida às futuras gerações, ou não fosse a família o primeiro agente de socialização.
O voto de um militante é um dado adquirido, independentemente da liderança partidária, bem como o voto dos aderentes ou o dos simpatizantes (Duverger). Este é, por via de regra, um tipo de eleitorado que se mantêm afecto a um determinado partido. Já conheci muitas pessoas que militantes ou aderentes, que falam na fidelidade de voto como um dever. Admito que sempre tive dificuldades em compreender esse fenómeno, ainda para mais quando se deixa que essa fidelidade partidária condicione a escolha dentro do mesmo partido. Considere-se as últimas presidenciais, com Manuel Alegre e Mário pela terceira vez (mp3), na corrida. Quantos militantes/aderentes do PS, querendo votar Alegre, votaram mp3? Quantos não sei, mas alguns certamente e nesse caso o voto foi condicionado por esta fidelidade. Custa-me perceber, quais os benefícios de um exercício de voto condicionado a uma fidelidade, que se presume ser ideológica na sua raiz. O livre exercício de voto é algo muito caro à democracia e não o é em vão.
Tome-se agora o exemplo das legislativas. Os militantes/aderentes do PS, que por ventura se sintam defraudados – sabe-se lá Deus porquê – pela sua fidelidade socialista, terão o dever de manter a fidelidade só porque é PS? Porquê? Para a direita não ganhar? Deverão pensar fazer parte de uma nova maioria absoluta… porque sim? Mesmo sentindo-se defraudados, deverão fazer parte de uma maioria relativa… porque sim? Não deveria ser absurdo um militante votar num outro partido ou não votar em nenhum, por não se identificar com a orientação que o seu está a tomar. Reduzir o voto à retórica ideológica é muito bonito na teoria, porém na prática não produz efeitos positivos. Na prática, a direita e a esquerda esbatem-se perante a realidade das coisas, dado que nem uma, nem outra são intrinsecamente más, nem uma, nem outra estão desprovidas de razão; são sim duas faces da percepção colectiva da realidade, tal como esta se lhe apresenta, logo governar à direita sem ir depenicar à esquerda e vice-versa, não será, quanto a mim uma boa politica para qualquer das partes. Como se não bastasse, estamos a falar do PS e PSD, com todas as suas diferenças abissais.
É preciso ter-se algum cuidado de modo a que se consiga impedir que as razões que tiveram origem na escolha de um partido, não se transformem em “palas de burros”, cujo objectivo é limitar a visão (neste caso política). Parece-me que ao levar o voto ao estatuto de dever, para além do indivíduo, estamos também a limitar – teoricamente – o potencial do partido em gerar orientações diferenciadas, que pela sua natureza possam agradar a uns e não a outros. Em última análise este factor pode até limitar uma democracia. No caso das autarquias temos que ter em consideração o maior peso do elemento candidato. Penso que quando o candidato(a) tem mais relevo, a questão do posicionamento ideológico perde importância. A imagem que transmite e aquilo que se espera da pessoa em si, ganha contornos mais terra a terra, não se compadecendo com direitas ou esquerdas. É obvio que a ligação à pessoa traz consigo uma certa afectividade ao partido. A titulo de exemplo, com ou sem Alberto João Jardim o PSD, por enquanto, ganha na Madeira, salvo algum cataclismo que possa vir a acontecer, como… … a ilha afundar.
De volta aos notáveis, lidamos agora com um novo elemento, que ultrapassa a mera condição de militante. Neste caso, importa a sua influência como formadores de opinião. Compreenda-se que este é sem dúvida mais um elemento, mas que deve ser tido em conta pelo próprio e não pelo partido. Assim, deverá ser o próprio a considerar as consequências das suas atitudes e afirmações. No caso de Alegre, partindo do principio que este é uma pessoa ponderada e assim o sendo, considerou as possíveis consequências dos seus actos, Vitalino Canas escusava-se de dizer o que parece ou que deixa de parecer aconselhável ao PS, até porque para “um partido livre e que convive bem com a divergência", o alarido foi grande. Podemos até servir no mesmo prato, Mário Lino e Mário Soares. Não será com certeza um governo socialista que virá dizer que Mário Soares está alheio da realidade portuguesa, muito menos pela mão de Mário “Deserto” Lino. Calculo que incomode muito a Sócrates falar na união da esquerda ou na pobreza, especialmente quando lhe está associada, a luta contra o stress social que tem vindo a ser imposto, produto de anos de desalento, de “tecnicismos” e de domínio do financeiro sobre a política. Se isto não vos convencer, aceitem que em termos de PS, tanto Alegre, como Soares dão cartas a qualquer membro do actual governo.
Já no caso de Manuela Ferreira Leite, temos ainda que ter em conta as circunstâncias, ou seja, a corrida eleitoral à presidência do PSD. O problema não se chegou a por, pois a candidata disse que tinha votado PSD, mas imaginemos que Manuela Ferreira Leite não votou em Santana (seja isso realidade ou não). No que toca à fidelidade partidária, reafirmo o que disse mais acima, acrescentando que nunca o “amor ao PSD” deverá ser maior do que o amor a Portugal, porque o voto deve traduzir-se na expressão de qual se pensa ser o melhor caminho para Portugal e não para o PSD. Por muito que Nuno Delerue se mostre estupefacto. Ao contrário do que se possa pensar, o facto de se tratar de uma candidata à presidência do partido, em nada altera o não poder existir um “dever supremo” de voto. Desta situação meramente hipotética, retiraria desde logo três pressupostos: o de que a candidata tem em mente um caminho muito claro para o partido e para o país; o de que a sua visão política ultrapassa as barreiras conceptuais do partido; o de que essa atitude mostra determinação nas suas convicções. Por isso, inconcebível, seria provavelmente a última palavra que utilizaria para descrever este tipo de atitude. Inconcebível seria sim, votar em algo em que não se acredita, por mero imperativo partidário.
Esta questão não se circunscreve aos militantes de relevo de cada partido, pois é também no eleitor comum que se encontra a ideia de fidelidade partidária, no sentido de voto. È certo que hoje em dia, o voto orienta-se cada vez menos por este tipo de obrigatoriedade, no entanto este é um factor que poder-se-á ter em conta, especialmente quando falamos de militantes. Enquanto jovenzinho, habituei-me a ouvir, “voto no PSD porque sou do PSD”, ou simplesmente um tão natural, “porque sim” (PSD porque sou madeirense). A identidade partidária pode ser e é em alguns casos, o factor primordial na orientação do sentido de voto, que dependendo do seu grau de intensidade no indivíduo, poderá afectar também aqueles que o rodeiam. Não é de todo pouco comum, encontrar “famílias do PSD”, do PS e por ai fora. De certa maneira, a tendência política é também transmitida às futuras gerações, ou não fosse a família o primeiro agente de socialização.
O voto de um militante é um dado adquirido, independentemente da liderança partidária, bem como o voto dos aderentes ou o dos simpatizantes (Duverger). Este é, por via de regra, um tipo de eleitorado que se mantêm afecto a um determinado partido. Já conheci muitas pessoas que militantes ou aderentes, que falam na fidelidade de voto como um dever. Admito que sempre tive dificuldades em compreender esse fenómeno, ainda para mais quando se deixa que essa fidelidade partidária condicione a escolha dentro do mesmo partido. Considere-se as últimas presidenciais, com Manuel Alegre e Mário pela terceira vez (mp3), na corrida. Quantos militantes/aderentes do PS, querendo votar Alegre, votaram mp3? Quantos não sei, mas alguns certamente e nesse caso o voto foi condicionado por esta fidelidade. Custa-me perceber, quais os benefícios de um exercício de voto condicionado a uma fidelidade, que se presume ser ideológica na sua raiz. O livre exercício de voto é algo muito caro à democracia e não o é em vão.
Tome-se agora o exemplo das legislativas. Os militantes/aderentes do PS, que por ventura se sintam defraudados – sabe-se lá Deus porquê – pela sua fidelidade socialista, terão o dever de manter a fidelidade só porque é PS? Porquê? Para a direita não ganhar? Deverão pensar fazer parte de uma nova maioria absoluta… porque sim? Mesmo sentindo-se defraudados, deverão fazer parte de uma maioria relativa… porque sim? Não deveria ser absurdo um militante votar num outro partido ou não votar em nenhum, por não se identificar com a orientação que o seu está a tomar. Reduzir o voto à retórica ideológica é muito bonito na teoria, porém na prática não produz efeitos positivos. Na prática, a direita e a esquerda esbatem-se perante a realidade das coisas, dado que nem uma, nem outra são intrinsecamente más, nem uma, nem outra estão desprovidas de razão; são sim duas faces da percepção colectiva da realidade, tal como esta se lhe apresenta, logo governar à direita sem ir depenicar à esquerda e vice-versa, não será, quanto a mim uma boa politica para qualquer das partes. Como se não bastasse, estamos a falar do PS e PSD, com todas as suas diferenças abissais.
É preciso ter-se algum cuidado de modo a que se consiga impedir que as razões que tiveram origem na escolha de um partido, não se transformem em “palas de burros”, cujo objectivo é limitar a visão (neste caso política). Parece-me que ao levar o voto ao estatuto de dever, para além do indivíduo, estamos também a limitar – teoricamente – o potencial do partido em gerar orientações diferenciadas, que pela sua natureza possam agradar a uns e não a outros. Em última análise este factor pode até limitar uma democracia. No caso das autarquias temos que ter em consideração o maior peso do elemento candidato. Penso que quando o candidato(a) tem mais relevo, a questão do posicionamento ideológico perde importância. A imagem que transmite e aquilo que se espera da pessoa em si, ganha contornos mais terra a terra, não se compadecendo com direitas ou esquerdas. É obvio que a ligação à pessoa traz consigo uma certa afectividade ao partido. A titulo de exemplo, com ou sem Alberto João Jardim o PSD, por enquanto, ganha na Madeira, salvo algum cataclismo que possa vir a acontecer, como… … a ilha afundar.
De volta aos notáveis, lidamos agora com um novo elemento, que ultrapassa a mera condição de militante. Neste caso, importa a sua influência como formadores de opinião. Compreenda-se que este é sem dúvida mais um elemento, mas que deve ser tido em conta pelo próprio e não pelo partido. Assim, deverá ser o próprio a considerar as consequências das suas atitudes e afirmações. No caso de Alegre, partindo do principio que este é uma pessoa ponderada e assim o sendo, considerou as possíveis consequências dos seus actos, Vitalino Canas escusava-se de dizer o que parece ou que deixa de parecer aconselhável ao PS, até porque para “um partido livre e que convive bem com a divergência", o alarido foi grande. Podemos até servir no mesmo prato, Mário Lino e Mário Soares. Não será com certeza um governo socialista que virá dizer que Mário Soares está alheio da realidade portuguesa, muito menos pela mão de Mário “Deserto” Lino. Calculo que incomode muito a Sócrates falar na união da esquerda ou na pobreza, especialmente quando lhe está associada, a luta contra o stress social que tem vindo a ser imposto, produto de anos de desalento, de “tecnicismos” e de domínio do financeiro sobre a política. Se isto não vos convencer, aceitem que em termos de PS, tanto Alegre, como Soares dão cartas a qualquer membro do actual governo.
Já no caso de Manuela Ferreira Leite, temos ainda que ter em conta as circunstâncias, ou seja, a corrida eleitoral à presidência do PSD. O problema não se chegou a por, pois a candidata disse que tinha votado PSD, mas imaginemos que Manuela Ferreira Leite não votou em Santana (seja isso realidade ou não). No que toca à fidelidade partidária, reafirmo o que disse mais acima, acrescentando que nunca o “amor ao PSD” deverá ser maior do que o amor a Portugal, porque o voto deve traduzir-se na expressão de qual se pensa ser o melhor caminho para Portugal e não para o PSD. Por muito que Nuno Delerue se mostre estupefacto. Ao contrário do que se possa pensar, o facto de se tratar de uma candidata à presidência do partido, em nada altera o não poder existir um “dever supremo” de voto. Desta situação meramente hipotética, retiraria desde logo três pressupostos: o de que a candidata tem em mente um caminho muito claro para o partido e para o país; o de que a sua visão política ultrapassa as barreiras conceptuais do partido; o de que essa atitude mostra determinação nas suas convicções. Por isso, inconcebível, seria provavelmente a última palavra que utilizaria para descrever este tipo de atitude. Inconcebível seria sim, votar em algo em que não se acredita, por mero imperativo partidário.
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