Já foi debatido na assembleia, agora no Prós e Contras. Assisti a ambos e por via das dúvidas mantenho-me reticente em relação a este acordo. Não tenho a mínima capacidade para poder discutir sobre as questões de fundo que surgem deste acordo, porém no que me toca, sou muito sincero quando afirmo que me incomoda um pouco saber que na sua versão final, palavras como atual e otimo, ficarão privadas dos respectivos c e p. Esse facto nada tem a haver com se escrever assim no Brasil, nem com a questão de que o nosso país está a ceder pois, essa para mim seria uma falsa questão. Terá mais a haver com a estética das palavras e por consequência da língua, bem como pelo facto de eu ter aprendido a escrever assim (admito), logo a familiaridade dessa mesma estética, faça com que me pareça mais agradável. Já casos, como a supressão do p em Egito, causam-me problemas de ordem lógica, dado que em egípcio o p será mantido.
Segundo me foi dado a entender – no decurso destes debates – surgirão alguns casos em que será admitida uma certa ambiguidade, o que arrastará certamente algumas confusões. Vi usado como argumento “de defesa” o facto destas ambiguidades já existirem na língua portuguesa. Parece-me que um novo acordo ortográfico deva primar pela resolução de certas deficiências e não pela manutenção de problemas pré existentes. Até porque o período de intervalo entre este tipo de remodelações é grande demais para estarmos a retirar simplesmente da equação qualquer inconveniente. Vasco Graça Moura, para além de ser alguém que eu gosto particularmente de ouvir falar, trouxe à luz alguns argumentos – principalmente na sua brilhante intervenção na AR – que me fazem duvidar sobre a viabilidade de algumas das questões mais formais deste acordo. Declaro-me incapaz de reproduzir aqui esses argumentos, no entanto à luz do que ouvi parece-me claro que deveriam ser pedidos mais pareceres, antes que se tome uma decisão definitiva. Não partilho de maneira alguma do pré anúncio de uma hecatombe, como a que a visão de Vasco Graça Moura implica, não obstante não relego completamente para segundo plano os danos que poderiam surgir de uma decisão apressadamente errada.
Esta não é uma questão em que a conveniência política ou mesmo económica deva desempenhar um papel preponderante. A nossa língua é para mim algo que ultrapassa em valor ambos os factores, e como tal penso deverá ser-lhe dada a devida importância. A julgar pelo modos operandi legislativo deste governo, calculo que uma política de avaliar os danos depois, encaixe que nem uma luva. No entanto penso que não deva ser este o caminho a seguir. É certo que esta discussão já se prolonga no tempo porém, certo também será que mais discussão técnica não seja prejudicial a não ser que se tenham outras pressas.
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