sábado, 12 de abril de 2008

Debate quinzenal com o primeiro-ministro

Mais um dia mais um debate, neste caso sob o tema energia… Como sempre faço quando estou aborrecido e quero rir um bocado, liguei o canal da AR, justamente durante o debate quinzenal com o nosso primeiro-ministro (vejam lá a coincidência). Desde logo pude constatar que já tinha perdido a habitual altercação Santana vs Socrates. Embora tenha apanhado no ar alguns vestígios residuais da disputa, pois bocas no parlamento é o que não falta – ou não fosse esse o objectivo daquela casa – não cheguei a tempo de assistir em directo ao expor dos “argumentos” entre o governo e o PSD.


Mas, como uma boa comédia nunca desilude, decidi então ver o que é que se passava daí em diante. Eis que aparece o deputado Paulo Portas a esgrimir sobre o seu tema favorito a agricultura, ou como Socrates tão eloquentemente o pôs… a lavoura… E começou bem, dado que foi ao cerne da questão, afirmando que Socrates, “gosta tanto de agricultura que para responder tem que ler o papel”. Logo fiquei fascinado com a pertinência da afirmação… o papel… qual papel…ahhá! O papel. Porém o nosso primeiro-ministro não ficou para trás, no que concerne à futilidade de afirmações, visto que imediatamente a seguir disse que “o Sr. deputado veio para aqui com a leitura dos jornais da véspera”, fazendo-lhe falta o dito papel. (Toma!) Não satisfeito, fez uso do tão cobiçado argumento, de todos os que chegam a governo: “…e porque o seu governo, bla bla bla…” Falaste? Falei. Disseste alguma coisa? Não. Não interessa…


Veio depois Jerónimo de Sousa com uma questão – esta sim pertinente – sobre o aumento desmesurado no preço dos combustíveis. O problema segundo o Sr. deputado, é que o aumento do preço dos combustíveis para o consumidor, foi muito superior ao aumento registado do preço do barril de petróleo que chegou a Portugal. Assim perguntou: “Porque é que o governo não intervêm no preço?”. Então Socrates, após gastar algum do tempo permitido, enaltecendo a importância do debate, jogando a carta das energias renováveis e falando de resultados, ou seja a brincar com a retórica; abordou a questão da melhor das maneiras afirmando, que “num debate tão importante como este o PCP quer falar nos preços”. Sim, porque os preços dos combustíveis que fustigam o cidadão comum não são importantes num debate sobre energia, ou melhor não convém ao governo falar nisso. Mas mesmo assim respondeu, dizendo que o governo não deve intervir, pois isso se reflectiria no bolso dos contribuintes (referindo-se a baixar os impostos nessa área).

Confesso não ser grande “especialista” nessa área, porém o senso comum diz-me que se numa altura que já é de crise, o aumento do preço do barril não corresponde ao aumento do preço final dos combustíveis, a razão apresentada para o seu aumento (que seria em principio o aumento de custos) não está no centro da mudança. Assim sendo, parece à primeira vista que as grandes distribuidoras deste produto estão a usar a crise e o medo para inflacionar ainda mais os seus lucros. E a julgar pela quase nula diferença de preços entre estas, estão a fazê-lo em conjunto (diria até em conluio). Agora, perante esta situação se o nosso governo nada mais pode fazer senão baixar os impostos, quem nos protege destas grandes empresas meterem as mãos no bolso do consumidor. Será que o problema é que o nosso Estado e não só este governo, tende a proteger mais estas grandes empresas do que o cidadão? Deixo à consideração…


Jerónimo de Sousa também atacou o preço do gás natural (40% superior ao de Espanha), considerando que para além de demasiado alto, este premeia os grandes gastadores e não visa a eficiência energética. Socrates decidiu-se por responder, trazendo à luz a inutilidade do governo perante o assalto dos preços. Assim o nosso primeiro simplificou a questão – sempre uma boa maneira para desacreditar uma posição – ao afirmar que se o preço do petróleo sobe é necessário baixa-lo, fazendo-o através da baixa dos impostos e considerou, um sinal errado para a economia pagar o preço como contribuintes e não como consumidores. Aqui está um perfeito exemplo da fina arte de mandar fumo para os olhos. Mesmo que a resposta fosse assim tão simples, é muito fácil falar com um ordenado de primeiro-ministro no bolso, mas acontece que muitos dos portugueses recebem muito menos. Mas talvez a culpa seja do deputado do PCP que não legendou a sua pergunta. Sr. primeiro-ministro, a pergunta não foi por causa do aumento do petróleo, foi sim por causa da discrepância entre o aumento do preço do barril e do preço para o consumidor… A esta é que não respondes, malandreco.

Como o debate já estava a ficar demasiado sério e isso é que não pode ser num parlamento, José Socrates de sorrisinho na boca disse que o Sr. deputado é que vai comemorar as nacionalizações de 75, “essa não é a minha visão”. E pronto, volta a descambar o debate, pois chega Jerónimo e pede a Socrates para não fazer esse “golpe de rins”. Começa então a falar nos lucros da banca, beneficiar o capital financeiro… bla bla… os bancos estão a pagar mais impostos (Socrates)… bla bla… “alguém está a enganar alguém” (Jerónimo)… terminando com o deputado do PCP a aliviar aquilo que eu considero uma verdade feia: “Há um punhado que não faz sacrifícios...”

Passamos ao deputado Francisco Louçã, que começou por pedir esclarecimentos sobre a aplicação de fundos públicos em off shores, nas ilha X, Y, e Z… Ooooohhhh, que mau e que tema completamente inesperado vindo do Bloco de Esquerda… Socrates mais tarde respondeu que em breve todos os números iriam ser divulgados pelo Ministério das Finanças…em suma nada de interessante a registar, tirando o pormenor de fundos públicos a irem parar em off shores… bem, aguardamos as explicações. A coisa aqueceu mais quando Louçã mencionou os bio combustíveis, dado que o FMI responsabiliza estes pela alta nos preços dos alimentos e como Portugal vai agora buscá--los a Angola e Moçambique, o deputado considerou que essa era uma atitude irresponsável por parte do governo, acrescentando que “o Sr. primeiro-ministro está a tirar o comer da boca dos pobres.” Chega a vez de Socrates falar e: “O Sr. acha que apostar nos bio combustíveis é retirar o pão da boca dos portugueses?” Aqui mais uma vez o problema da falta de legendas… Ò Sr. primeiro-ministro, não é aos portugueses é aos angolanos e moçambicanos. Já está a parecer o Sr. Bush que responde sempre ao lado. Continuando, Socrates afirmou ainda que essa ligação entre a subida do preço dos alimentos e os bio combustíveis, não era bem assim e ainda estaria por provar. Quem sabe mais que Socrates o filósofo? O FMI não é de certeza…


O deputado bloquista decidiu depois enveredar pelo trabalho precário, considerando que para além deste ser um problema no geral, estava a tornar-se cada vez pior na função pública, por influência das más politicas deste governo. Chegou mesmo a providenciar um exemplo com o porta-voz do PS (do governo presumo), dado este ser assalariado por uma empresa de trabalho temporário. Este exemplo foi dado mediante a acusação de esquerda da facilidade feita pelo primeiro-ministro, que Louçã devolveu ao governo (um jogo mais conhecido como ping-pong). A estucada final foi quando o deputado bloquista perguntou, “que políticos anfíbios são estes, que saltam do poder para o sector privado?” – “Ouça o eng. João Cravinho”, referindo-se à corrupção… aquela que não existe…

Chegada a vez do PS, da bancada socialista ouviram-se as críticas às críticas da oposição… nada de anormal… até que o deputado socialista, incomodado com o barulho que vinha das outras bancadas, interrompeu a sua intervenção para denunciar esse incómodo: “Cale-se Sr. deputado, não tem o direito ao ruído e à ruaça”
Onde já se viu? Ruído e ruaça no parlamento? Nunca. Até parece que os deputados da nossa Assembleia têm por costume interromperem-se uns aos outros, que nem crianças, mandando aqui e ali uns quantos bitaiques. Até parece que tal como autenticas galinhas, elevam a voz em pleno desrespeito por quem fala e já agora em desrespeito pelo lugar onde estão. Nunca… digo eu incredulamente… ou talvez sim… todas as bancadas sem excepção, uma vez por outra. Até o fazem aos seus colegas de bancada com os “muito bem” ou “é verdade”… Já estive em creches com crianças mais bem comportadas e/ou educadas do que estes senhores. Mas pelo menos dá para divertir o telespectador.
Do mal o menor…

Finalmente, lá vem Socrates a desferir os golpes finais… Ataque ao PSD através de Santana… resposta que ficou para dar ao PP sobre a presença “política” portuguesa nos jogos olímpicos – não apoiamos a violência empregue no Tibete, no entanto faremos o que a UE fizer… cachorrinhos como sempre, assim prova o acordo ortográfico (já me distanciei um pouco). Mas Socrates guardou o melhor ficou para o fim… “Francisco Louçã é um fariseu”, “insinua”, “lança lama”, “o seu tique de superioridade moral é insuportável”, “isso não é bonito” (e a arrogância de um primeiro ministro é linda de se ver).

Engana-se quem acha aborrecido qualquer debate na AR… Os telejornais com os seus cortes é que fazem parecer que aqueles são debates coerentes e sérios, em torno das questões… isso é um mito. Só lá faltam as meninas de tanguinha com o número dos rounds a passarem após um curto intervalo.

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