quarta-feira, 7 de abril de 2010

Libertinagem de expressão

As audições na Comissão de Ética sobre a liberdade de expressão continuam a produzir “lavagem de roupa.” A perspectiva de que se possa retirar alguma conclusão desta amálgama de depoimentos é só por si, hilariante.

Nas audições de ontem Santos Silva [na altura com a pasta na comunicação social] reafirma que nunca, como ministro, se pronunciou sobre o cancelamento do jornal.

Pais do Amaral [ex-presidente da Media Capital] apontou baterias para José Eduardo Moniz [que já desvalorizou] afirmando que "houve um período em que a TVI tomou um conjunto de decisões de que se desviaram da linha de isenção e credibilidade", e confirmou que a TVI foi usada como "plataforma para derrubar o Governo de Santana Lopes." Declaração que o próprio Santana Lopes considerou ser histórica, aproveitando para relembrar o movimento contra o seu governo e a altura em que um Presidente da República foi militante.



Mais acutilante Emídio Rangel [antigo director da SIC e da RTP] dispara uma rajada de acusações:

  • Aos juízes, que facultam aos jornalistas os documentos e violam o segredo de justiça;
"Nesta roda entraram há pouco tempo a Associação Sindical dos Juízes e o Sindicato dos Magistrados do Ministério Público: obtêm processos para os jornalistas publicarem, trocam esses documentos nos cafés, às escâncaras".
  • Aos que envergonham o jornalismo como Manuela Moura Guedes, José Eduardo Moniz, José António Saraiva, José Manuel Fernandes, Francisco Pinto Balsemão;
"Em Portugal existe bom jornalismo e bons jornalistas, mas é cada vez maior o número dos que atropelam o código deontológico. Esta peste entrou em Portugal pela mão de Paulo Portas quando era director do Independente, que fez primeiras páginas sem respeito ou valor pela dignidade humana."

  •  Às agências de comunicação que "a maior parte delas plantam notícias, têm jornalistas por conta, compram jornalistas".

Rangel garante também que foi saneado politicamente da RTP. O presidente da RTP disse-lhe que era um bom profissional mas tinha que sair, assim sendo, haveria um acordo ou haveria um processo disciplinar. Rangel conta a José Miguel Júdice e este arranja um encontro com Morais Sarmento ["com quem tinha entendimento preferencial"… sublime!]. "Só temos 90 mil contos, não temos outra solução", foi o resultado desse encontro.

A Associação Sindical dos Juízes Portugueses já reagiu às declarações processando Rangel. Algo que não o atemorizou, visto que já reiterou as acusações.


Resta esperar para saber se o problema está na liberdade de expressão, na libertinagem de expressão ou em ambas. O que fica exposto sem dúvida alguma é o submundo de tricas políticas e jogos de poder que caracterizam o quotidiano político-social português.

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