quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Negociações...

Em alturas de Conselho Europeu com a crise e a disciplina financeira na ordem do dia, a Alemanha e França querem apertar o cerco aos países incumpridores com mecanismos de gestão de crises e penalizações, chegando a ser sugerido o retirar de direitos de voto. Sob um clima de revisão do Tratado de Lisboa com vista a disciplina financeira, Lisboa chega sem acordo para o OE e com a pressão dos mercados a aumentar


As negociações entre PS e PSD foram rompidas com espalhafatosos directos televisivos indicativos do que foi a realidade das “negociações.” As mútuas acusações de falta de disponibilidade para negociar deixam a nu as verdadeiras razões para este desenlace. Não foi certamente uns milhões que provocaram o desentendimento. Foram antes razões políticas, só partidariamente relevantes, as verdadeiras causadoras desta trica. PS e PSD brincam agora à batata quente. Ambos estão disponíveis, ambos esperam que o outro dê o primeiro passo.


Em princípio o OE passará, mas não podemos deixar de lado toda a telenovela política. Para quê criar consensos e trabalhar em conjunto? Reunir com os vários partidos e pensar um orçamento atempadamente com negociações sérias, responsáveis e [necessariamente] demoradas? Não… Vamos antes deixar para as últimas e conseguir um arranjinho com o maior partido de oposição. Isso é que é negociar. Demoradas? Não há nada como tentar resolver o assunto uns dias antes, com umas horas de retórica partidária.


Neste caso, o autismo político do governo só é complementado pela incapacidade dos partidos para pensar além do próximo acto eleitoral. As inflamadas e muitas vezes jocosas declarações denunciam a incapacidade negocial de todos os partidos, bem como a facilidade com que cedem ao oportunismo partidário. Responsabilidade e Sentido de Estado são meras palavras na boca de muitos destes políticos usadas quase exclusivamente para justificar votações. Não é à toa que muitos destes filósofos da democracia só sabem funcionar com maiorias absolutas. Um mal que se estende do poder local, aos corredores de São Bento.


Amanhã Cavaco Silva dará um exemplo da tal “magistratura activa” [o pós magistratura de influência…] de que falava, com o Conselho de Estado apontado no OE. Atitude que também podia ter vindo mais cedo, pois a situação certamente o exigia.


[Imagem retirada de Corridas e patuscadas]

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