domingo, 23 de março de 2008

O PSD do Menezes


Luís Filipe Menezes, um homem do poder local, que decidiu aliviar Marques Mendes da liderança do PSD. O que distinguiu esta subida ao poder das restantes foi o apoio das “bases”, assim como a aversão dos denominados “barões” do partido à sua liderança. Pode-se dizer que Menezes não chegou a beneficiar do período de calma, que poder-se-ia esperar após a eleição de um líder partidário. No entanto, não se tratou de uma surpresa, os prenúncios de instabilidade interna eram claros. Desde o princípio notou-se que nem todos estavam satisfeitos e que não iriam “dar tréguas”.


Acontece que Menezes claramente decidiu adoptar uma postura de confronto. É certo que perante o cenário em que este recém líder se viu imerso, havia mais do que um caminho a seguir dos quais, um deles seria a tentativa de minimizar o conflito. Não pretendo perder-me por entre a viabilidade das várias opções, na tentativa de definir qual delas serviria melhor os propósitos de Menezes ou do PSD. A decisão foi a de “pegar o touro pelos cornos”, vamos partir daí.


Nas palavras de Menezes, “Estamos a acabar com alguns tabus, o que dói a muita gente.” E como doeu às elites partidárias… ainda deve de estar a doer. Convenhamos que é mais fácil liderar um partido com o apoio dos “barões” do que sem eles. Esta não é porém uma missão impossível. A estratégia de Menezes centra-se no apoio das bases. A abolição das quotas, a escolha dos deputados nos distritos a que pertencem, tudo isto faz parte da estratégia. Renovar o PSD é a palavra de ordem e melhor ainda (para Menezes claro está) assegurar o poder rodeando-se daqueles que são mais propensos a renovar-lhe o mandato. Menezes chegou mesmo a juntar o útil ao agradável, quando atacou as elites agradando as bases: “Faltará é lugar para alguns que ao domingo preferem o monte para caçar do que estar com os militantes de base numa festa.” (boca)


As respostas aos ataques à liderança de Menezes, tem sido “à letra”. A título de exemplo, quando dez antigos dirigentes do PSD, subscreveram um comunicado pedindo um debate interno sobre o novo regulamento do partido, Menezes afirmou: “Alguns são os responsáveis pela maior multa que o PSD vai ter de pagar por financiamento ilegal.”.
Acabou o tempo da posição privilegiada de algumas das personalidades mais mediáticas do PSD. Bem, como quem diz, pois tenho para mim que a influência das elites não terminará; aparecerá simplesmente sob novas formas ou as mesmas renovadas. Depende sempre do contexto em que essa realidade se insere.


Um outro campo de batalha – dado o carácter mediático das pessoas que falamos – está a ser a opinião pública. E aqui temos vindo a assistir a muitas declarações anti-Menezes. Rui Rio, referiu-se ao novo regulamento como uma porta aberta “à lavagem de dinheiro ao nível do financiamento partidário.” António Capucho afirmou, na reunião da assembleia concelhia da sua secção que Menezes não serve para líder do PSD; e numa entrevista ao Jornal 2 disse que a medida (da abolição das quotas) era uma maneira de “escancarar a porta à desvergonha”. Marcelo Rebelo de Sousa, também tem a sua quota-parte na criação da imagem negativa sobre o que o líder do partido anda a fazer. Uma critica aqui, uma critica ali, uma aula de formação politica a militantes de base do partido. Mas nunca deixando de ser o mais ponderado dos críticos.



De uma maneira ou de outra está a ser criada a ideia de que Menezes está a arruinar as hipóteses do PSD se tornar “um problema” para o PS nas próximas eleições muito devido às intervenções de alguns geradores de opinião. No entanto, não me parece que seja este o caso. O eleitor comum não se podia estar mais nas tintas para as quotas, para o financiamento, para o símbolo ou mesmo para se as elites estão irritadinhas. Até porque aqueles votos que fazem falta, não estão nos simpatizantes do PSD. Falar em baixar os impostos e tentar criar uma empatia com o cidadão comum, darão mais frutos nestas circunstâncias. E nisso, Menezes tem a vantagem. Nas entrevistas sobre o lado pessoal de Menezes e Sócrates, o primeiro conseguiu jogar melhor com a sua imagem. Mais aberto, mais dado, enfim… mais pessoal (mesmo que a mãe de Sócrates o considere generoso).


No que toca ao PS, Menezes tem estado a puxar pela carta sondagens, que ao contrário do que se possa pensar são favoráveis ao PSD. Tem também aproveitado as áreas sociais, da saúde e da educação como os pontos fracos dos socialistas. E sim, aproveitado foi exactamente o que quis dizer. O aproveitamento político nem sempre deve ter uma conotação negativa, pois varia consoante a situação. A arrogância e irritabilidade do nosso primeiro, é outro dos botões que têm sido pressionados. Bem ou mal, Santana Lopes tem mais jeito para isso, para além de saber se movimentar muito bem na Assembleia da Republica.


Já que falamos nisso, e quando à questão da liderança bicéfala? Bicéfalos são os seres que povoam as lendas e os mitos. O PSD não é uma lenda e está muito longe de se tornar um mito. Esta é uma falsa questão. Não existe uma dupla liderança no PSD. Cada um faz o que lhe compete. E goste-se ou não, esta poderá ser uma parceria estratégica que poderá abalar o PS, presumindo que Santana irá “play ball”. Para quem fala num apoio a uma “outra” candidatura a decisão acaba por ser simples, quem é que precisa de uma lição, se Menezes, se Sócrates. Dito isto, devo confessar que algumas das orientações que se visionam no futuro de um PSD liderado por Menezes, são para mim um factor de preocupação. Mas isso é conversa para uma outra altura.

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