O que dizer? Um Sócrates bem preparado foi o que encontrei. Isto porque não foi apanhado de surpresa em nada e respondeu bem [na medida do possível]. Por outras palavras, tinha o TPC bem feito [tendo-lhe para isso valido o facto da entrevista a Manela ter antecedido a sua]. De qualquer maneira, poucas foram as surpresas. No entanto, foi curioso constatar que o “Sócrates sensível” está cada vez mais a ganhar terreno ao “Sócrates autoritário” de outros tempos. A proximidade de eleições faz maravilhas… a pressão social também ajuda… Tomaram-no por arrogante [os malandros] quando afinal, determinado, adequava-se melhor, disse Sócrates. Quem diria, digo eu. A linha que separa determinação de arrogância poderá ser ténue, sem dúvida, mas um “quero, posso e mando” nas entrelinhas, pintado de concertação social, raramente é determinação pura e simples. Esta não significa necessariamente, ficar surdo a tudo o que não se concorda; antes pelo contrário, ser democraticamente determinado significa seguir uma orientação geral apontada para os objectivos traçados, e não tornar-se demasiado rígido no que toca à maneira como se atinge determinado objectivo.
Essa característica é comum no poder, que o digam aqueles que pedem maiorias absolutas, como única forma de se governar bem. Acontece que é mais fácil governar numa ditadura mesmo que esta seja democrática, dado que uma oposição com mais poder, significa mais cedências por parte de quem governa. Porque será isso pior? Não sei, até porque nem penso assim… Não ponho em dúvida que seja mais fácil uma maioria absoluta, porém considero que seja menos benéfica. Ainda sobre a “determinação”, quanto às manifestações nota-se a tentação para desvalorizar tais acontecimentos, embora nesse campo o PM esteja mais comedido. Um “discordo dos manifestantes” aqui, um “não gosto é de insultos” ali, rematando com um “oriento as decisões com base no interesse geral… de acordo com a minha consciência”. Sendo que um “não acho que haja agravamento das tensões sociais”, foi um passo além, daquele que deveria ter sido dado, não obstante, um Sócrates mais comedido… pois não interessa [nesta altura do campeonato] hostilizar ninguém…
Mais uma vez ouvi o “não há alternativa”, neste caso, referindo-se aos sacrifícios pedidos aos portugueses… Alguém que lhe diga por favor, que há sempre alternativa a tudo, e que ao aceitar isso está também a aceitar também que ele não é o dono da verdade.
Ficou claro nesta entrevista que a bandeirinha de Sócrates continua a ser a estabilização das contas públicas, ou esse facto não tivesse sido repetido umas 500.000 vezes. Todavia, considerando a importância crescente do social na agenda pública, Sócrates defendeu-se como pôde. “Baixámos o IVA”; “Aumentámos o 1º e 2º escalões do abono de família”; “O complemento solidário para idosos”; “O maior aumento do salário mínimo nos últimos 30 anos”; “O abono pré-natal para grávidas”… Tentou ainda cimentar a componente social do seu governo com as novas medidas, em primeira mão[sublinhou]. A apresentação de um pacote fiscal com vista a redução dos custos de habitação. A redução do IMI, através de um tecto máximo [cheira-me a Manuela] e a dedução progressiva das despesas com habitação para o IRS. No entanto, sem dados concretos e com algumas hesitações pelo caminho, foi um anúncio fracote. Se fosse eu, teria esperado até 10 de Julho…enfim.
E a descida de impostos em 2009? “Devemos recusar as respostas fáceis”; “Neste momento descer impostos seria uma aventura”. Mas não deixou de “piscar o olho” aos contribuintes, aludindo a que se as condições forem outras no final do ano, talvez… [A mesma estratégia de Manuela, versão socrática].
Nas obras públicas o PM safou-se bem. “Nós não lançamos obras públicas, limitamo-nos a executar o que o país já se tinha comprometido a fazer” [o país de Durão, claro está]. “Já conheço esse discurso do país da tanga…” [o mesmo discurso que caracterizou os primeiros anos de anos do seu governo?!?!?] “compromete-se o futuro deixando de investir”. E agora… o Sócrates sensível e preocupado… “faço um apelo aos dirigentes do PSD… parem para pensar.” Tão querido… Continuando nas obras públicas, o PM arrumou [e bem, devo dizer] uma por uma, senão vejamos: 4 barragens, feitas por empresas privadas (e não com recurso a dinheiros públicos), que possibilitam lucros ao Estado, maior autonomia energética e uma aposta no ambiente (tratando-se de energia renovável); Sobre o TGV, o estudo custo \ beneficio já está feito e está disponível na internet. Não deixou passar que o compromisso assumido com Espanha (pelo anterior governo) tem de ser cumprido; a auto-estrada para Bragança é um simples caso de justiça para com aquela zona do país; sobre o Aeroporto, limitou-se a dizer que a necessidade existe e que este tem que ser levado a cabo o mais rápido possível [não há alternativa… que tal?].
Na questão camionista, o PM relembrou, aqui a crise só durou 3 dias. Noutros países durou mais. Quiseram fazer a coisa com mais inteligência, disse. Sinto-me na necessidade de relembrar que três dias de cerco ao país passaram, com abusos inqualificáveis, sem que houvesse uma acção decisiva quer por parte do governo, quer por parte das forças de segurança pública. É que eu tenho alguma dificuldade em perceber onde está a inteligência, em deixar que o Estado de Direito e a segurança das pessoas sejam ameaçadas…
Na agricultura, o PM chamou a atenção que não chamou a si as negociações. Não! Vão sim, estar os dois [ele e o Ministro] presentes nas negociações. Ah pois é…
Na legislação laboral o PM teve a vida facilitada, pois os jornalistas não insistiram muito nessa matéria. De qualquer das maneiras notou-se que Sócrates tinha tudo na ponta da língua. Estava preparado para metralhar as vantagens da concertação social (que a CGTP nunca quis).
Achei piada à insistência [dos jornalistas] sobre o “tabu”. Mas que tabu? O homem vai se recandidatar em Fevereiro, e pronto. Tal pergunta não tem interesse nenhum… ainda muita água correrá na ribeira até lá. É verdade porém, que Sócrates pode repetir quantas vezes quiser, que não está a pensar em eleições, porque está… A mudança de atitude do governo e do próprio Primeiro-Ministro, de uns tempos para cá, é notória.
Gostei da “cábula” de Sócrates com as propostas do PCP… muito cómico. Um momento “puitibull”…
E aqui está… Perante este cenário importa dizer: Bloco Central? [o papel] Qual Bloco Central? [Qual papel?].
A principal diferença entre Sócrates e Manuela, é que um está no Governo e outro na oposição… entendam como quiserem…
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