segunda-feira, 21 de julho de 2008

Sobre o Ensino Superior (1)


Ainda há bem pouco tempo tive que pagar 949 euros de propinas. Se a memória não me falha, este é o máximo que se pode pagar de propinas. Paguei-as todas de uma vez, pois na minha faculdade nunca houveram multas relativas ao atraso de pagamento [situação que se não era única ao ISCSP, andava lá perto] e agora já as há. Não preciso de dizer a ninguém, que hoje em dia este montante pesa na bolsa de muitos portugueses [por entre os quais me incluo], assim sendo, é natural que eu gostasse de me sentir bem servido, coisa que infelizmente não acontece, e não por ser no ISCSP, dado que muitas das reclamações que eu tenho, vejo-as reflectidas em amigos meus que estão noutras faculdades. Serão os “mil euros” um exagero? Provavelmente não. É certo que para que uma boa formação exista é necessário dinheiro, logo, fazer com que os alunos efectuem um contributo monetário parece-me justo. O que me custa compreender é que, apesar dos mil euros, as universidades continuem a reboque de dinheiros públicos. Não foi há muito tempo que o Ministro das Finanças acusou os reitores de má gestão. Será que assim o é?


Nas universidades públicas até pagamos muito pouco, isto em comparação com o ensino privado, onde em casos por mim conhecidos paga-se bem, em tudo. Conheço um caso numa privada, onde para além do balúrdio mensal, paga-se o que se faz e o que não se faz, surpreendendo-me que não se pague para usar a casa de banho. Não obstante, mil euros não deixa de ser considerável tendo em conta a natureza pública do ensino que frequento. É possível que o modelo de gestão das universidades esteja desgastado e pouco adaptado às novas realidades. Parece-me pouco coerente que as reitorias tenham sob a sua alçada muitos dos aspectos de gestão das faculdades, o que exemplifica a típica tendência para a concentração de poderes. Penso que seria benéfico um modelo de gestão autónomo das faculdades pois este permitiria uma melhor adequação da gestão sobre aquilo que se pretende gerir, sem que fosse necessário para isso interferir no controlo a nível de universidade sobre a vertente curricular. Acusar os reitores de má gestão pode ser precipitado, especialmente se o problema se encontra no sistema em si. Se juntarmos a esta azafama a redução dos dinheiros públicos, a situação tenderá necessariamente a piorar, reflectindo-se indirectamente na qualidade do ensino.


No meu caso concreto não sinto que compense pagar o máximo exigido de propinas. Temos no ISCSP muito boas instalações, é verdade. Mas as instalações não são tudo. Temos duas salas de computadores [alguns da idade da pedra], uma delas com duas impressoras para imprimir trabalhos à borla [pagamos as folhas]. O acesso à Internet é gratuito [isto se conseguirmos arranjar lugar], o que inclui wireless [que nunca consegui pôr a funcionar no meu computador]. Mesmo algumas das coisas que a faculdade proporciona bem são mal aproveitadas. A título de exemplo foi necessário chegar ao quarto ano e por minha iniciativa perguntar, para saber que na minha biblioteca poderia aceder de borla a bases de dados pagas [com acesso a vários trabalhos \ teses \ estudos \ livros] que são uma clara mais valia no meio académico. Temos também algumas conferências de interesse [muitas pela acção activa dos núcleos de estudantes]. Resumindo, pago a propina máxima para ter aulas, fazer exames e ter acesso à Internet e à biblioteca, ou seja, o básico. Onde está o centro de estudos perguntam? Não existe. Onde está a participação em estudos, projectos, etc? Não existem. Onde está o incentivo à investigação? Não existe [mal que é português]. Onde está o laboratório designado a cada área? Não existe. Onde está a tutoria? Não existe [e não é por causa de Bolonha ainda não estar implementada, pois a tutoria está já á muito prevista nos estatutos da faculdade].


Não tenho nada disto, mas tenho uma bela mesa de snooker grátis, numa salinha toda bonita, com um sistema de som todo porreiro e duas mesas de matraquilhos, cortesia da AE.É pena que a prática destes jogos não me ajudam no currículo… paciência. Recordo-me quando o ISCSP fez 100 anos houve dinheiro para pôr, na parte de trás do Instituto, um cartaz comemorativo gigante, bem como uma calçada comemorativa na entrada toda bonita. Espectáculo. Será que posso pôr isso no meu currículo? Talvez não. Recordo-me também quando decidi perguntar a funcionários e docentes sobre ajudas à investigação ou a projectos. Escusado será dizer que me olharam como se fosse um extraterrestre. “ah… pois… sabe…” Pois sei… No caso de Ciência Politica no ISCSP, são tão poucas as condições que não posso deixar de me perguntar se as minhas propinas não estarão a financiar outras faculdades da minha universidade que têm melhores condições. Pergunto-me…
No meu curso tenho que admitir que tenho à frente das cadeiras alguns nomes sonantes pagos pela faculdade para lá leccionar [deputados, ex-governantes, por aí], só é pena que nas aulas propriamente ditas só conhecemos os assistentes deles, porque alguns nem se dignam a lá por os pés, outros aparecem uma vez por outra. Talvez fosse uma boa ideia começar a poupar por aí… Não dá aulas? Rua…

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