segunda-feira, 4 de maio de 2009

Democracia minada



Passou-se o 1º de Maio e ficou a agressão a Vital Moreira. Ninguém com meio palmo de cabeça poderá concordar com agressões e insultos a seja lá quem for, porém o que fica destas agressões é a tentativa de transformá-las num facto político.
Vital Moreira vai buscar o seu passado político para justificar tais agressões, algo que não anda longe da verdade, mas também aponta o dedo ao PCP e à própria raiz comunista, como se pode ver pelo seu blogue Causa Nossa [1;2], curiosamente indo buscar forças ao candidato do PCP, José Saramago. Vitalino Canas, que é como quem diz o PS, responsabiliza directamente a CGTP e o PCP e faz um pedido de desculpas.
Nesta situação, haver ou não tal pedido [certamente não haverá] é perfeitamente irrelevante para o PS. O que verdadeiramente importa é a criação de um facto político na tentativa de servir dois objectivos. O de limpar potenciais consequências negativas deste 1º de Maio para o governo PSócrates®, e o de renovar a campanha de Vital às europeias.

Serve o PS, pois enquanto andam todos muito ocupados com agressão para aqui e agressão para ali, o que deveria ser o verdadeiro significado deste 1º de Maio, entenda-se, as revindicações dos trabalhadores \ o descontentamento de muitos [não… não sou comunista], uma discussão sobre as causas da actual situação em que se encontra o nosso país e muitas vidas, bem como uma avaliação do desempenho do governo, é deixado de lado. Como se pôde ver… funcionou às mil maravilhas. Por exemplo, por muito que Carvalho da Silva tentasse durante as entrevistas, centrar o tema nos trabalhadores… bla bla bla… viu-se impotente perante o tema “Agressão a Vital”, [decidindo tirar proveito].. O PS centrou baterias nesse tema, de modo a marcar a “agenda noticiosa”, e conseguiu. Não que fosse preciso muito esforço, dada a tendência “cor-de-rosa” dos serviços informativos na guerra pelas audiências.
Um segundo objectivo [e não menos importante] é a tentativa de obter um “efeito Marinha Grande”, reacendendo a campanha de Vital Moreira, ao mesmo tempo que se aumenta o prestígio do PS junto dos eleitores. Aqui, penso que serão menos bem sucedidos, pois o candidato não é Mário Soares e as circunstâncias são bem diferentes.

É assim que se vive a realidade da política portuguesa… com estes jogos de bolso. O que só por si não seriam nada de negativo caso houve-se mais dinamismo político, e partidos dispostos a praticar uma democracia consistente e não uma democracia eleitoralista minada.
Um pequeno exemplo desta tal democracia minada transparece na novela da “Agressão a Vital”.
Declarações de Vitalino Canas:
“A CGTP e o PCP criaram, durante esta legislatura, um ambiente de ódio. E este acontecimento foi a expressão desse ódio que foi sendo gerado contra o PS”
Ao que Jerónimo de Sousa retorquiu:
"não vai conseguir maioria absoluta (…) Por isso nós não nos impressionamos com essa arrogância, com essas ameaças. Qual pedir desculpa qual carapuça, desculpas tem Sócrates que pedir ao povo português por aquilo que prometeu e não cumpriu"

Um sacode o capote, pois foi o PCP e a sua filia… e a CGTP que gerou o “ódio” e não algo que o PSócratismo seja responsável. O outro atira palha para a fogueira na tentativa de tirar proveito da situação… Lembre-se… ainda falamos de agressões… [ler Manuel Alegre]

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