quinta-feira, 14 de maio de 2009

A dinâmica da política étnica no Sri Lanka


O Sri Lanka é um verdadeiro laboratório, para o estudo da dinâmica das relações inter-étnicas. Na era da colonização, Ceylon era considerada uma colónia modelo e a transição para a democracia foi suave, pois o primeiro Primeiro-ministro era líder da maioria singalesa e reunia o apoio de outros grupos étnicos minoritários. No entanto, no quinquagésimo aniversário da independência, o Presidente Chandrika Kumaratunga, reconheceu que, “falhamos em forjar as diversas comunidades numa nação do Sri Lanka”. Este comentário referia-se claramente aos processos de criação da Nação, quando directamente apontadas as maneiras usadas para lidar com as minorias.

As ligações e aspirações comuns que uniam as elites singalesas e tamil degeneraram numa discórdia difícil de suplantar. Estes pontos de discórdia geraram uma onda de violência sem controlo. Segundo A. R. M. Imtiyaz, do departamento de Ciência Política da Temple University, as escolhas da classe política singalesa, danificou a confiança tamil no sistema político, em geral; pois houve uma falha deste sistema, no sentido que recebeu os pedidos tamil moderados, como uma fundação do extremismo tamil. Isto inutilizou os esforços, para uma coexistência pacífica.

O conceito singalês de, “Sinha Dipa – Terra do singaleses” e “Dhamma Dipa – Terra da Dharma Budista”, foi crescendo dentro da maioria da comunidade singalesa, que passou a considerar os tamil ou os muçulmanos como não nativos e sem qualquer direito ao território do Sri Lanka. O lugar de destaque que o budismo tem vindo a ter, nas constituições deste país comprovam a supremacia singalesa sobre o território. Os grupos de pressão, que influenciam a tomada de decisões por parte dos governos deste país, são o clero budista, os sindicatos, o T.L.T.E. e os grupos radicais singaleses. Esta é uma situação propícia à criação de um elemento de discórdia étnica, presente nas políticas “de facto” do governo singalês.

Alguns exemplos desta situação, são as diversas politicas que discriminam a comunidade tamil dentro do seu próprio território, como a politica de admissões à faculdade (que estabelecia quotas de entrada a jovens de etnia tamil, organizadas por distritos) ou a lei que estabelecia o singalês como língua oficial. A constante recusa, por parte dos sucessivos governos em reconhecer um país independente, Tamil Eelam ou a negação da coexistência de duas pátrias sob um princípio federativo, são mais um factor de discórdia e de atraso dos processos de paz.

O governo por sua vez, acusa o T.L.T.E. de constantemente atrasar o processo de paz e de claramente não ter interesse na resolução do conflito. Numa jogada política, que visa chamar a atenção das potências internacionais para o seu dilema e eliminar a conotação de conflito étnico. O governo anunciou que irá focar a sua atenção em fortalecer as leis anti-terror, no interesse da segurança nacional. Isto terá dois benefícios para o governo e para o presidente, que são a inclusão do seu problema, no panorama mundial da luta contra o terrorismo, visto a conjuntura internacional actual favorecer a eliminação do terrorismo; e ao mesmo tempo dá uma maior margem de manobra ao governo e ao presidente, com o reforço dos poderes (uma manobra semelhante ao recente “Patriot act”, nos E.U.A.)

A acusação dirigida ao governo, pelo T.L.T.E é a de usar terrorismo de Estado contra os tamil, não deixando outra hipótese em aberto. Estes identificam-se como sendo um grupo de libertação e não uma organização terrorista. Não é possível estabelecer como únicos culpados da má dinâmica étnica do Sri Lanka os governos. Torna-se necessário ter em conta que, para a aplicação de uma determinada política derrogativa directamente direccionada, num grupo humano democraticamente organizado, é necessária a criação de um conjunto de condições a nível social que o permitam.

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