quinta-feira, 14 de maio de 2009

Esboço de uma história do Sri Lanka (2)


A tensão entre as populações tamil e singalesas não são recentes, pois datam da altura das lutas entre Reinos. Mesmo após da independência, nunca houve uma estabilização das tensões, nem a ideia de uma coexistência pacífica sob uma bandeira. Em 1976, durante a primeira Convenção Nacional da Frente Unida de Libertação Tamil, foi adoptada a Resolução Vaddukoddai. Esta é uma resolução política que define como objectivo a restauração e reconstituição de um Estado Secular Socialista Livre e Soberano, Tamil Eelam, baseado no direito à auto determinação inerente, à protecção da Nação Tamil, chegando a definir a forma como deveria ser criado. Na Resolução Vaddukoddai, está indicada como causa desta a necessidade de defesa contra a alegada repetida tentativa, por parte dos governos Singaleses em subjugar a população tamil (tais como instituir o singalês como língua oficial, a política de admissões à faculdade ou o retirar de cidadania a alguns tamil) , em encorajar um nacionalismo agressivo nos singaleses e em futilizar as tentativas de luta, por parte dos partidos tamil dentro do sistema político.

 

O escalar de tensões que deu origem à guerra civil é chamado de “Julho Preto”  (tumulto anti-tamil) e deu-se em 1983. Foi nesta altura que os Tigres de Libertação de Tamil Eelam (T.L.T.E.) lançaram-se na ofensiva contra as tropas governamentais, junto com outros grupos tamil. Esta guerra prolonga-se até os nossos dias, com ataques constantes por ambas as partes e alguns períodos de tréguas instáveis. São estimados pelo menos 65.000 mortos desde o começo e danos extensos à população e economia do país. Em 1985 houveram conversações de paz, entre os grupos tamil e o Governo do Sri Lanka (G.S.L.) que falharam.

 

Dois anos depois, as tropas governamentais empurraram o T.L.T.E. para a cidade da Jaffna e em Abril desse ano o conflito explodiu, tendo o seu expoente máximo em Julho, com o primeiro ataque suicida do T.L.T.E. (Um suicida fez-se explodir num camião carregado de explosivos, contra um campo do exército, tendo morto 40 soldado)  Ao longo do tempo o T.L.T.E. acabou por se fundir ou por eliminar outros grupos tamil. O resultado deste avanço foi a fortificação deste grupo e a criação de grupos tamil anti-T.L.T.E. e pró-governamentais.

 

A Índia envolveu-se nos fins dos anos oitenta, de modo a poder proteger as populações de mais agressões (Esta intromissão foi o resultado da pressão da comunidade tamil indiana sobre o governo). No início da intervenção o governo Indiano apoiou as duas partes da contenda, tendo até enviado em 1987, pela Força Aérea, comida para a cidade de Jaffa, durante o cerco pelas forças governamentais. Devido à sua localização o Sri Lanka sempre fez parte, da estratégia oceânica e costeira Indiana. Mas, não como uma ameaça militar, é mais uma preocupação geoestratégica, quanto à possível exposição da Índia a factores contraditórios aos seus interesses. Pois, há sempre uma rede extensa de relacionamentos a todos os níveis em países vizinhos, quer seja ela positiva ou negativa para o país. O que no fundo provoca um certo grau de interesse, por parte da Índia na estabilidade política, social e económica do Sri Lanka, bem como para onde pende a sua balança de poder.

 

A 29 de Julho de 1987, foi assinado o Acordo de Paz Indo-Sri Lanka, pelo Primeiro-ministro indiano, Rajiv Gandhi e o Presidente do Sri-Lanka, Jayewardene. Neste acordo o governo fez algumas concessões às exigências tamil, como a devolução de poder às províncias, em troca o T.L.T.E. deveria entregar as armas à Força de Paz Indiana (F.P.I.). Poucas das concessões foram aplicadas e quando o T.L.T.E. recusou-se a entregar as armas, o F.P.I. tentou desmobiliza-los pela força e acabou em conflito com os tamil, que vieram proteger. Simultaneamente ao desejo tamil para a retirada das forças indianas, os sentimentos nacionalistas singaleses começaram a opor-se à presença Indiana.

 

O apoio indiano foi retirado drásticamente, após o assassinato do recente ex-Primeiro-ministro indiano, Rajiv Gandhi em 1991 (por uma mulher bombista-suicida, que se acredita pertencer ao T.L,T.E). Em 1998, um tribunal indiano considerou o T.L.T.E. e o seu Líder Velupillai Prabhakam, responsáveis pelo assassinato. Ainda hoje a Índia pede a extradição do mencionado líder.  Nesse mesmo ano, numa carta aberta aos singaleses, o T.L.T.E. afirmava, não terem qualquer ódio em relação aos singaleses, vendo-os como oprimidos e aliados na luta contra o regime, que continuamente nega direitos ao povo.

A organização inclusivamente acusa o regime de incitar as massas singalesas contra os tamil. São também apontados alegados “esquemas de colonização”, que usam colonos singaleses, para fazer com que os tamil sejam uma minoria no seu próprio território. Com a retirada da F.P.I. do território, o T.L.T.E. conseguiu ocupar uma parte significante do norte, estabelecendo uma estrutura de governo própria. Nos anos 80 e 90 os sucessivos governos revogaram oficialmente algumas leis discriminatórias e reconheceram o tamil como língua oficial, embora não produzindo um efeito positivo nas hostilidades.

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