Este post vem na sequência de um
comentário deixado por em leitor.
O Partido Popular Democrático / Partido Social Democrata [PPD/PSD] é um só partido, que a bem dizer é um PPD com uma capa social-democrata. Nem pouco mais ou menos o PSD alguma vez deixou de ser um partido de direita [ora + conservadora, ora + liberal / e
por aí continuará], por muito que se queira pintar de social-democracia de terceira via [coisa que já agora é o que melhor define o PS de agora].
A passagem de PPD para PSD foi um processo de maquilhagem política que passou da adopção da forma social-democrata, para a mudança do nome. Este processo resultou da necessidade, algo eleitoralista, de se distanciar da União Nacional [mais precisamente da ala liberal desta].
Depois do 25 de Abril, com o PREC, e mesmo depois do 25 de Novembro, a última coisa que um partido recém-criado precisava era que os confundissem com fascistas. Por causa do Estado Novo, a direita em Portugal ganhou na psique portuguesa uma associação quase directa à direita conservadora autoritária. Isto ligado a algumas pessoas do PPD facilmente "associáveis" ao regime fascista, fez com que o PPD fosse obrigado a se transformar em PSD, pois social-democracia “caía” melhor no ouvido. Ao contrário do Centro Democrático Social [CDS] por exemplo, que não sentiu necessidade em alterar o nome, pois os também “democratas cristãos” já haviam assentado arraiais no centro.
Para que não haja dúvidas da ocorrência de tal confusão entre o PPD e os fascistas, deixo-vos com uma pérola da nossa democracia:
Sessão de 17 de Outubro de 1975
“(…)
O Sr. Presidente: - Tem a palavra o Sr. Deputado Jaime Serra.
O Sr. Jaime Serra (PCP): - Sr. Presidente, Srs. Deputados: A intervenção do Dr. Sá Carneiro no comício-manifestação do PPD em Braga, no dia 16, merece-nos as seguintes considerações.
Perante o crescente isolamento e marginalização política do partido de que é secretário-geral, S. Ex.ª ...
Risos.
...parece ter entrado em delírio Qual megalómano, qual candidato a "Führer de feira", permite-se fazer acusações irresponsáveis e caluniosas e intimações impertinentes, dirigidas as primeiras ao PC e as últimas ao PS. Assim, mostrando não ter esquecido as lições de Marcelo Caetano e de Tomás, dos ideólogos da ANP, dos seus companheiros de bancada na Assembleia Nacional fascista e, sobretudo, o tom e conteúdo das notas da PIRE, em que se inspirou, certamente, neste discurso, acusa o PCP - além de outras coisas - de antidemocrático, ...
Risos.
... de anti-português.
Uma voz: - Justíssimo!
O Orardor: - Tais acusações, vindas donde vem, estamos certos que prejudicarão, aos olhos do povo português, mais o PPD que o Partido Comunista Português.
Uma voz: - Não se preocupe!
O Orador:- Do PCP, o nosso povo conhece a heróica e consequente luta ...
O Sr. Costa Andrade (PPD): - Ai que ternura!
O Orardor:- ... pela democracia, pela liberdade e independência nacional, ao longo de quase meio século de ditadura fascista, e conhece a consequente actuação em defesa das conquistas da Revolução iniciada em 25 de Abril, face às arremetidas da reacção, do PPD e seus comparsas.
Sr. Presidente, Srs. Deputados: Dos homens do PPD - partido do depois do 25 de Abril - e dos seus dirigentes, particularmente do seu secretário-geral, o nosso povo, cuja memória não é curta, conhece a colaboração que prestou em várias frentes ao regime fascista de Tomás e Caetano. Conhece também a sua actuação política mais recente, que, num crescendo impressionante se identifica cada vez mais com os interesses da reacção, dos monopólios e do imperialismo, inimigos jurados de Portugal e do povo português.
Quem é, portanto, anti-português? Quem é, portanto, contra a independência de Portugal?
Uma voz: - O PCP!
O Orador: - O PPD, já se vê!
Uma voz: - Grande poeta ...”