quarta-feira, 3 de junho de 2009

O voto castigo e o voto nulo



Vote para castigar isto e aquilo, este e aqueloutro. De todas as vezes em que se pede o voto, não há forma mais vã e sem conteúdo do que quando se pede um voto num partido para castigar um outro, mesmo quando o argumento é castigar a esquerda ou a direita [como se isso significasse alguma coisa]. Vote em X, para castigar Y… Mas é que apetece mesmo dizer, vai mas é choramingar para outra freguesia [ou país].
Muitas são as vezes em que oiço, “eu vou votar neste para castigar aquele”. Muitos parabéns! Acabou de demonstrar que a democracia passa-lhe completamente ao lado. Serviu de muito o voto castigo, aos que votaram PSD, para castigar o PS de Guterres, ou os que votaram PS para castigar a coligação PSD\CDS-PP, e agora servirá o mesmo aos que votarem PSD para castigar o PSócrates. Escusado será dizer que não ficam de fora os que castigaram, votando pequeno [entenda-se partidos pequenos].


Mas então para que serve o voto? Bem… para castigar é que não é de certeza. Pedem o voto castigo[1], aqueles que mais nada têm para apresentar, e usam o voto castigo num partido qualquer, aqueles que nada querem saber.
Em última instância, o voto serve para expressar a sua intenção de voto, num apoio a uma determinada orientação política [mesmo quando o intuito é apoiar determinado candidato]. Com o voto estamos a legitimar a acção política daqueles em que votamos, assim, o voto castigo surge quando aqueles em que votamos agem contrariamente aos desejos de quem neles votou.


O voto castigo não é mau em si, porque a ideia por trás de tal voto é a de julgar uma determinada acção política. O erro surge, quando votamos num determinado partido, só para castigar um outro. Votar num outro partido é bom, se concordarmos com as orientações desse mesmo partido, e não porque queremos castigar seja lá quem for, porque com essa acção só castigamo-nos a nós mesmos, castigando a democracia.
O voto castigo [quando é um objectivo em si mesmo] só é correctamente usado quando votamos em branco ou nulo [preencher o boletim como se não houvesse amanhã]. Só assim é que não estamos a atribuir legitimidade a quem não queremos, e a castigar quem pretendemos, não votando neles.


Normalmente o voto nulo traz alguns problemas a aqueles que querem votar e sempre votaram [os que não têm esse tipo de problemas estão tratados aqui: Abstenção consciente]. Mas o que acontecerá se eu não votar em ninguém? Mas o que acontecerá se todos votarem nulo? Estarei com isto a dar a maioria ao X? Estarei a ajudar a trazer ao poder aqueles que não quero?
A pergunta que se segue a estas só poderá ser: Se votar nulo estarei a fazer com que chova canivetes? Digo isto porque a lógica é a mesma, ou seja, nenhuma. Esse tipo de futurologia eleitoral não tem cabimento, enquanto fundamento de voto. Mais uma vez, o voto serve para expressar a sua intenção de voto, e não para testar os seus dotes de vidente.


O que muitos políticos, partidos, ou simplesmente cidadãos, parecem não entender, é que a democracia só funciona na sua plenitude quando não a tentamos controlar. O conjunto dos votos numa eleição, é a forma de os cidadãos definirem a orientação política, mas isto só funciona bem, democraticamente falando, quando cada um de nós expressa aquilo que nos vai na alma, através do voto. Assim sendo, se a sua orientação política vai de encontro com a de determinado partido, mas as acções das pessoas que estão à frente desse partido não se coadunam com a sua ideia de o que deveria ser feito [a ideia está mais desenvolvida aqui: Militantes ou autómatos]… simplesmente vote nulo, e o mundo não acaba, garanto. O mesmo poderá ser dito para aqueles que se revêem, em mais do que um partido, ou em nenhum e simplesmente acham que os políticos e partidos de agora não são dignos de levarem com o seu voto em cima… votem nulo.

Mas o que é que significa verdadeiramente o voto nulo? Que fique claro que um voto em branco ou nulo, bem como a abstenção, não significa a não validação dos resultados apurados por muitos que sejam, ou seja, alguém será eleito com os votos válidos, por muito poucos que estes sejam. O voto nulo ou em branco deve ser entendido como um voto de protesto, contra a falta de alternativas credíveis e contra a actuação dos políticos e partidos. É no fundo uma chamada de atenção dos eleitores aos que desempenham funções [não só cargos] na vida política do país. A verdadeira diferença entre estes votos e a abstenção, é que embora a abstenção também devesse ser entendida como uma chamada de atenção, esta é mais facilmente relegada para segundo plano enquanto desinteresse dos cidadãos pela política.

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