Enquanto decorria o Conselho de Estado dedicado ao tema, Teixeira dos Santos e Catroga reuniam na casa do segundo. Da chaminé de Catroga saiu fumo branco… objectivo atingido, foi negociada… uma abstenção. Um OE 2011 que já se tinha tornado um imperativo patriótico prossegue viagem. E que alteração substancial ao OE foi alvo de tanto rebuliço? Nenhuma, pois todos menos o Governo concordam este é um mau orçamento. O
PSD cedeu aqui, o Governo ali. Ambos “salvam face” porque negociaram, e salvaram o país do monstro FMI.
Do lado de Coelho a
necessidade perante as circunstâncias determina a viabilização, mas não sem minorar as consequências mais negativas deste OE. Assim tal como Pilatos o PSD lava as mãos e a responsabilidade pelo OE é só do Governo. Certamente que também não passará de mera coincidência a disponibilidade para acordo por parte do PSD e a candidatura do cidadão Cavaco. Podemos ler no
comunicado do partido que...
”de acordo com os dados que finalmente o Governo apresentou sobre a evolução das contas públicas, foi possível constatar que a derrapagem orçamental (…) é bastante mais grave do que aquilo que tem sido afirmado”
…e por causa disso, não puderam…
“ir mais longe na procura de soluções que, nomeadamente no tocante ao IVA e à TSU, permitisse minorar mais a sobrecarga fiscal.”
Mais boas notícias que nos permitem desenhar um lindo cenário.
Do lado do governo o adiar do fumo branco permitiu a Sócrates poder ir falar para a Europa sobre a sua corajosa e solitária cruzada contra o défice. E esta coisa de ceder em pormenores tem muito que se lhe diga. Teixeira dos Santos pode agora dizer que “o acordo tem consequências”. Qualquer coisinha… foram as consequências! Com 500 milhões de euros para compensar o acordo, o ministro fala em encontrar um “
mix adequado” [despesa\receita]. Já o
PS promete que não irá recorrer ao aumento de impostos. Por muito que leia esta última frase, ela nunca deixa de ter piada…
Mesmo sem ter em conta a telenovela política que tivemos a “oportunidade” de assistir, o espírito por trás do acordo torna-se visível quando nem houve lugar para uma declaração conjunta. Só podemos antever “próximos episódios”. Não deixa de ser irónico que na conferência de imprensa onde Teixeira dos Santos confirmou o tão almejado acordo, ter falado também sobre novas medidas para pôr o défice em 4,3%. Avizinham-se mais anos da crise, dos PEC, e das danças.
Quanto aos outros partidos, o BE e PCP nem se preocuparam com a viabilização do OE, dado que a direita iria certamente preencher o vazio. Fecharam qualquer porta à negociação anunciando um chumbo. Uma atitude coerente tendo em conta os historiais, mas nem por isso responsável ou mesmo democrática. O CDS-PP deixa o anúncio do chumbo para quando estava claro que o palco ia ser todo de Coelho. Sócrates não permitiria que fosse de outra maneira. Uma vez parceiro de dança…
Uma notícia positiva é que aparentemente o pacto PS\PSD foi bem recebido na imprensa internacional. Pode ser que isso acalme o nervosismo dos mercados. E muito simpáticos foram os senhores jornalistas estrangeiros, porque caracterizaram o teatro político-partidário que durou 7 dias, como “
várias semanas de tensas negociações”. Assim, até parece bem!