terça-feira, 26 de agosto de 2008

A cunha

Foi do blogue Portugal sem cunhas, que me chegou a referência a uma petição contra as cunhas.

Assim de repente, parece-me mais fácil fazer com que o Irão desista do nuclear…
A cunha está cimentada na nossa sociedade e como pequena corrupção [porque é disso que se trata], esta é impossível de se erradicar. A cunha está presente em quase todos os aspectos da vida quotidiana e nem sempre como algo negativo [tal como todas as corrupções]. Com isto, não quero dizer que concordo com a cunha [ou que dê-lhe uso], antes pelo contrário. A cunha é em toda a sua magnitude algo de perverso, que mina as liberdades e garantias dos cidadãos, bem como a competitividade e funcionamento saudável das várias instituições. Muitas incompetências instalam-se devido ao factor cunha. Muitas injustiças são criadas. No entanto, é necessário perceber que a cunha pode ser um atestado de estupidez [o que é verdade em muitos casos], porém esta também pode tornar-se num atestado de necessidade, dada a hegemonia desse factor em todo o lado [por exemplo].

Mais do que tentar impingir, de cima para baixo, a destruição da cunha, é importante que se criem condições para que esta se auto destrua dentro da própria sociedade civil. Consideremos que a maior parte dos cidadãos portugueses, vê a cunha como um recurso legítimo [a não ser que sejam eles os prejudicados]. Que não se subestime o poder da cunhocracia, pois eles andem aí… no governo, nos partidos, nas empresas [públicas e privadas], nas faculdades, nas escolas, nos serviços mais elementares… Criem todas as regras necessárias e não deixam de estar a atacar os ramos, quando o problema está na raiz. Pois a ética não nasce da imposição, ela brota da compreensão.


A relação dos portugueses com a cunha está bem expressa no estudo, “Corrupção e Ética em Democracia: o Caso de Portugal” [do Centro de Investigação e Estudos de Sociologia], publicado no Jornal de Negócios [18\04\08].









Ou falamos de política, ou a cunha é perfeita. Esta é que é a realidade portuguesa e vê-se a olho nu todos os dias.

Lê-se na referida petição:
”Assim sendo os abaixo-assinados pedem a V. Exas. tomem as providências necessárias para:
- Tornar os concursos públicos mais isentos e com um processo de admissão que inclua observadores imparciais e externos à entidade empregadora;- Punir, de forma célere e com firmeza, todas as formas vulgarmente conhecidas como “cunhas” – vigiando os acessos à função pública e processos nela constantes, através da fiscalização de relações sociais e partidárias.- Legislar no sentido de, a curto e médio prazo, poder erradicar dos hábitos culturais dos portugueses a aceitação da cunha e de favorecimentos semelhantes, criando as bases para um país mais desenvolvido, mais produtivo, mais competitivo e mais justo.”


Não vou assinar esta petição. Isto porque não vejo o que faria a punição, “de forma célere e com firmeza, todas as formas vulgarmente conhecidas como “cunhas” – vigiando os acessos à função pública e processos nela constantes, através da fiscalização de relações sociais e partidárias”, até porque se propõe algo impossível de realizar e possivelmente sem efeitos, mesmo se seguirmos a via legislativa como é proposto.
Se a petição fosse no sentido de se fazer pleno uso de uma atitude pedagógica activa [ou mesmo agressiva], de forma a combater o problema da cunha, já poderiam contar com a minha assinatura.

Melhor seria se esta fizesse parte de uma estratégia global de combate à corrupção. Nada como estes salamaleques de salão que se vê “por aí”.

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