sexta-feira, 29 de agosto de 2008

Haja crime


Numa altura em que só se fala em insegurança, importa saber o que se passa. Não podemos simplesmente dançar ao sabor da música que nos tocam. Até porque de “pimbalhadas”, já estou eu farto [não da música “pimba” propriamente dita, porque essa sempre nos anima].

Um Portugal inseguro coberto com uma manta de retalhos, é do que temos notícia por estas alturas: são assaltos a bancos; são tiros para aqui e para ali; são tribunais saqueados [essa até tem o seu quê de piada]; são esquadras invadidas; é a violência doméstica; mortes; feridos; armas… por aí em diante. Mas que país é este? Perguntam algumas almas atormentadas. Bahhh! É o mesmo país de 2002, 2003, 2004, 2005, 2006, e 2007, alturas em que o drama da insegurança não se havia instalado, e que nas notícias se falavam em outras coisas. Como quem diz. Porque: “Tirando o assalto à carrinha de valores, o episódio do BES e a Quinta da Fonte, ainda não vi nada que não pudesse ver ao pegar num Correio da Manhã ou num 24H, de há dois ou três anos.

Através de um comunicado do Gabinete Coordenador de Segurança soubemos que a criminalidade violenta subiu cerca de 15%, porém fica registado que essa percentagem não deixa de ser inferior às de 2004 e 2006. No que toca à criminalidade participada, esta cresceu 7% em relação a 2007, mas com números idênticos aos de 2003 e 2004. Nesta mistela o que me preocupa mesmo são os crimes de “carjacking” que andam com acréscimos de 50%. Já em 2005 havia a consciência de que a criminalidade era cada vez mais violenta e com recurso a armas de fogo.

«Estamos muito preocupados com o uso excessivo de violência e de armas de fogo» Chefe da repartição de informações da GNR, coronel Fernando dos Santos Afonso

De qualquer das maneiras, mesmo com o “recente” aumento de criminalidade, não podemos começar a bradar aos céus. A titulo de exemplo, de acordo com o Global Peace Índex, num total de 121 países em 2007, e de 140 países em 2008, atingimos o nono e sétimo lugares no ranking dos países mais pacíficos. Não estou com isto querendo dizer que a nossa situação é a melhor, receitando para esse efeito mais do mesmo. Qualquer criminalidade é má criminalidade, no entanto não partilho do desespero que por ai anda, e muito menos do aproveitamento que se lhe segue. Precisamos estar conscientes da situação que nos rodeia, pondo as coisas em perspectiva e não deixando que a emoção tome conta, alimentando os tais “aproveitamentos”. Estamos em perfeitas condições de melhorar a situação, desde que deixemos de parte o fumo que nos mandam para os olhos, e desde que a vontade política não esteja sujeita aos caprichos das sondagens, avançando com medidas concretas e não medidas “tapa buracos”.

Por falar em… o governo vai avançar com a alteração da Lei da Armas, com a aplicação da prisão preventiva em todos os crimes que envolvam o uso de armas. Ponho em dúvida o verdadeiro alcance desta medida, tendo em conta que os “crimes violentos e graves são crimes aos quais se aplica a prisão preventiva” [Rui Pereira, MAI], apesar disso, mal também não fará. É mais uma para o currículo já extenso das políticas de estanque.

Por falar em… a GNR e a PSP têm andado ocupadas com mega operações de “prevenção da criminalidade” no Porto e em Lisboa. Prevenção sim Sr., a curto prazo, mas prevenção. O efeito de tais operações é real, quer pelo aspecto dissuasor [do lado dos criminosos], quer pelo aumento de confiança [do lado dos restantes] de que algo está a ser feito. Mas, tal como o atafulhar de polícias armados até aos dentes, na Quinta da Fonte ou do Mocho durante meia dúzia de dias, nada resolverá. Esta movimentação não deixa de ter um toque de manipulação política.

Por falar em… o Primeiro-ministro já escolheu o titular do cargo de secretário-geral do Sistema de Segurança Interna. O juiz conselheiro Mário Mendes é o felizardo que terá a seu cargo a coordenação das forças policiais e de segurança [no caso de ataques a órgãos de soberania, hospitais, prisões e escolas, sistemas de abastecimento de água e electricidade, bem como estradas e transportes colectivos], o que calha bem pois o terrorismo português… peço desculpa… em Portugal, já me andava a preocupar. As boas notícias são que o Sr. secretário-geral estará sob dependência directa do Primeiro-ministro. Digo boas notícias, derivado a um súbito ataque de patetice.

Por falar em… Alberto João Jardim, propõe-nos uma visão diferente sobre a criminalidade:“Está a ser vendido aos portugueses que se trata de um surto grave de criminalidade, mas é preciso saber se não é só criminalidade, senão foi despoletada uma revolução social com laivos de violência”.“É preciso não desligar o que está a suceder, das leis socialistas sobre a droga porque aumentou extraordinariamente o consumo e há indivíduos que recorrem a todos os meios para obter financiamento para esse ilícito”.Faz-se de tudo para se tentar passar a sua própria agenda. Mesmo correlacionar fenómenos e circunstâncias que só por si nada justificam. Já para não falar que eu duvido, que os personagens que andam a assaltar banco o façam drogados ou para arranjar droga. Esta maneira de abordar o problema não deixa de ser uma tentativa desesperada para chamar à atenção.

Por falar em… Paulo Portas pede mais polícias e videovigilância nos “bairros problemáticos”. Pelo andar da carruagem estranho não ter pedido implante de um chip nas nádegas dos portugueses como forma de controlar a criminalidade…
Por falar em... Aguiar Branco acaba de reclamar [na Sic Notícias] para o PSD, os louros de ter trazido para a hasta pública a preocupação sobre a insegurança.... Mário Crespo [e bem] disse-lhe:
Isso quem fez foram os assaltantes do BES... Ah pois é, bebé.

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